Cerveja, Ainda que Tardia
Depois de uma cerveja em homenagem ao Paraná e uma em homenagem ao Rio Grande do Norte, agora eu homenageio a terra do meus antepassados por parte de pai, o glorioso estado de Minas Gerais.
Quando eu era criança e ia de férias para Teófilo Otoni no nordeste mineiro eu tomava um refrigerante que meus primos de lá diziam ser "o melhor do mundo", o Mate Cola.
Realmente era um refrigerante muito refrescante e saboroso, feito com erva-mate e chapéu-de-couro. E apena era possível encontrá-lo na cidade de Teófilo Otoni, nas cidades vizinhas já não tinha.
Eu ficava confuso quando depois ia para Belo Horizonte e lá encontrava o Mate-Couro, outro refrigerante que leva erva-mate e chapéu de couro. Eu perguntava para meus tios e primos se os dois refrigerantes tinham alguma relação mas ninguém sabia me explicar. Apenas atualmente com o advento do google que eu consegui satisfazer minhas dúvidas. Aparentemente dois amigos fundaram a Mate Couro em Teofilo Otoni em 1945, mas devido dificuldades financeiras acabaram por vender a marca e a fórmula para uma empresa de Belo Horizonte. Com o capital da venda eles retomaram o empreendimento algum tempo depois com o nome de Mate Cola.
Curiosamente a Oettinger - cervejaria alemã - produz um soft drink que leva erva-mate e tem o mesmo nome da similar mineira.
Mas o que eu ficava mais confuso era o porquê dos mineiros fazerem refrigerantes com erva-mate se ninguém ali tomava chimarrão como no Rio Grande do Sul nem chá-mate como no Paraná. Esta dúvida nem o google conseguiu me responder...
Enfim... como eu queria uma cerveja com forte aroma de malte e ésteres frutados da levedura para acompanhar as ervas, resolvi fazer uma cerveja no estilo de uma Belgian Specialty Ale com Erva Mate e Chapéu de Couro.
A erva-mate, neste caso, é a processada para fazer chá-mate, a erva tostada, e não a para fazer chimarrão, a erva verde. Já o chapéu de couro utilizei a erva seca conforme é utilizada para se fazer chá.
Erva Mate Tostada
A Ilex Paraguensis tostada é a erva tradicional do chá-mate. Rico em polifenóis, taninos, cafeína e teobromina. Já abordei essa maravilhosa erva que representa muito o nosso país neste tópico. O fabricante recomenda fazer uma infusão de 16g por litro. Mas nesse caso, como eu quero extrair bastante amargor, optei por fazer uma decocção de 10 minutos, o que é recomendado em algumas fontes. Por outro lado, como pretendo utilizar também o chapéu de couro, resolvi diminuir essa dosagem pela metade.
Decocção - 8g por litro - 10minutos
Chapéu de Couro
O chapéu-de-couro (Echinodorus grandiflorus) é uma planta semi-aquática nativa do Brasil, sendo encontrada principalmente no Sudeste em regiões alagadas de cerrado, sobretudo nos estados de Minas Gerais e São Paulo, porém, também pode ser encontrada no Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul) e Sul (Paraná e Santa Catarina).
Erva com sabor amargo e refrescante com alcalóides, flavonóides, resinas, saponina, tanino e triterpenos. Possui propriedades antirreumáticas, diuréticas, anti-inflamatórias e atua como depurador do sangue.
A dosagem que eu escolhi foi de 5g de Chapéu de couro por litro realizando uma decocção por 5 minutos.
Eu joguei o chapéu de couro direto na fervura, o que eu descobri ser um grande erro, a erva é muito volumosa e absorveu muito da cerveja jovem, próxima vez farei um chá bem concentrado à parte adicionarei ao final da fervura.
O resultado final foi uma cerveja de coloração castanha, carbonatação moderada. O aroma apresenta alguns ésteres frutados provenientes da fermentação com a levedura belga mas o aroma do chapéu de couro predomina, quase não se sente a erva-mate. No sabor sente-se uma rica maltosidade que equilibra com o forte condimentado proveniente da fermentação e das ervas.
Gostei bastante do resultado, a lição que ficou foi para uma próxima receitar adicionar um pouco mais de erva-mate e um pouco menos de chapéu-de-couro, pois eu esperava sentir um pouco do aroma mentolado da erva mate tostada e isso não ocorreu.
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