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O Futuro da Cerveja Artesanal no Brasil

Recentemente escrevi uma série de artigos que tratam da história da cerveja artesanal no Brasil, e ao final deste estudo cheguei a uma pergunta que todo amigo cervejeiro eventualmente se faz:

Qual é o Futuro da Cerveja Artesanal no Brasil?

Vou expor nas próximas linhas minha singela opinião.

A pergunta tem, a meu ver, dois eixos:
  • O que irá acontecer com o mercado de cervejas artesanais no Brasil?
  • Conseguiremos criar uma identidade nacional cervejeira?


Qual é o DNA da cerveja brasileira?

Mercado

Qual é a tendência do mercado de cerveja no Brasil para os próximos anos? O mercado continuará crescendo, estagnará ou irá decair configurando uma moda passageira?


De acordo com reportagem da revista Istoé de Agosto de 2013  a demanda por cervejas artesanais no Pão de Açúcar tem crescido a uma taxa de 80% ao ano. O que é um indicador interessante dado que o Pão de Açúcar foi pioneiro no movimento enófilo nacional e portanto possuem boa experiência em se tratando de bebidas. Esta matéria avalia que o mercado de cervejas artesanais corresponde hoje a 0,15% do mercado de cervejas e a expectativa do setor é chegar a 2% em uma década. Para efeitos de comparação, no mercado americano este número está em 7,8%. 

Com 0,15% do mercado de 13,7 bilhões de litros e cerca de 250 cervejarias artesanais instituídas(de acordo com o mapa das cervejarias artesanais), a produção média de cada cervejaria é de 80.000 litros/ano. Imaginando-se que o mercado de cerveja nacional cresça 2% a.a, e a participação das cervejarias artesanais cresça para 2% conforme esperado pelo autor da reportagem da Istoé, e também que a produção média das cervejarias artesanais dobre para 200.000 litros/ano. Isso representaria um espaço para o surgimento de 1400 cervejarias artesanais na próxima década. Número que é condizente com o que se tem hoje no mercado americano com 2800 estabelecimentos

No entanto, eu confesso que esta análise é um tanto grosseira pois parte de hipóteses frágeis: que a economia cresça 2% ao ano na próxima década, que o consumo de cerveja acompanhe esse crescimento, que a participação das cervejas artesanais alcance 2% do mercado de cervejas e se baliza por comparações com o mercado americano que é muito diferente do nosso.

Por outro lado, avaliando-se a evolução histórica do número de cervejarias por população, chega-se ao seguinte gráfico para o mercado americano:

Fonte: http://scottjanish.com/interactive-chart-history-u-s-breweries/
Já para o mercado nacional, a partir dos dados levantados aqui, o gráfico se comporta da seguinte forma:



É curioso perceber como os dois gráficos são parecidos. O gráfico americano apresenta um período anulado durante o período da Lei Seca e chega a um valor máximo de concentração bem mais baixo que o mercado brasileiro, 5 milhões de pessoas por cervejaria nos Estados Unidos contra 8 milhões no Brasil. Mas o ápice da concentração ocorre no mesmo momento nos dois gráficos (1980), e o comportamento das curvas são muito similares, evidenciando que existem algumas equivalências entre os dois mercados.

Por outro lado, a desconcentração ocorre muito mais rapidamente nos Estados Unidos e em 30 anos estabiliza em um valor próximo ao que era entre 1918 e 1919 (100.000 habitantes por cervejaria). Enquanto no Brasil ainda se percebe uma tendência de queda, como se o movimento de desconcentração no setor no Brasil tenha ocorrido de forma mais calma, mais lenta.

Supondo-se que o mercado brasileiro venha a se comportar como o americano, estabilizando também no seu respectivo valor de 1918-19 (no caso brasileiro, 370.000 habitantes por cervejaria), e que isso ocorreria em 50 anos (de 1980 a 2030), obtêm-se o gráfico abaixo:


A partir desta previsão chega-se a um valor de 550 cervejarias em 2025, ou seja, um espaço para surgimento de 300 cervejarias na próxima década. Um valor bem mais modesto que os 1400 na análise anterior.




Para efeitos de comparação pode-se ver o gráfico para o mercado Alemão que é, sem sombra de dúvidas, muito diferente do nosso (e do americano) e está estabilizando em torno de 65000 habitantes por fábrica (dados obtidos em http://www.europeanbeerguide.net/gerstats.htm).






E aí, entre estas projeções de 300 a 1400 novas cervejarias surgindo no país na próxima década, eu fico com a singela conclusão que sim, o mercado está consolidado, não será uma moda passageira e existe uma real tendência por expansão. Agora é importante salientar que isto é apenas uma tendência, muita coisa pode acontecer no meio do caminho.

O mercado dita as tendências ou as tendências controlam o mercado?

Conclui-se da análise anterior que o o mercado de cerveja artesanal no Brasil tende a crescer. Mas o que isso nos diz quanto ao que irá se beber no Brasil? O fato do mercado estar em crescimento pode impactar a cultura cervejeira nacional, ou o desenvolvimento da cultura cervejeira nacional que impactará o mercado? Essa é uma pergunta mais complexa do que aparenta a uma primeira vista. Gostamos de acreditar que o mercado é regido pelas tendências. Que o marketing das empresas esforça-se por entender o consumidor e atender as suas demandas. Mas isso nem sempre é verdade em se tratando de consumo, pois forças econômicas muitas vezes nos impõem aquilo que vamos consumir e mesmo assim acreditamos que o poder de escolha foi nosso. Seguem três exemplos interessantes.

Comida Japonesa
Até o início dos anos noventa era algo relativamente raro no Brasil. Eu lembro que quando eu era adolescente eu considerava algo extremamente exótico o ato de comer peixe cru. E em uma década isso se tornou corriqueiro e a gastronomia japonesa está integrada em nosso dia-a-dia. 
Sempre achei que isso tivesse sido uma tendência natural do mercado nacional, até que eu li uma notícia que o governo peruano estava conduzindo um projeto de disseminação da gastronomia peruana pelo mundo e que estava utilizando como benchmarking o bem sucedido projeto conduzido pelo governo japonês algumas décadas atrás. 

Vinhos
Há alguns anos, se você fosse a um Pão de Açúcar comprar um bom vinho seco, suas opções eram bem limitadas. Teria que escolher entre um Almadém ou, se fosse esbanjar, o alemão da garrafa azul. Hoje a realidade é outra, e no mesmo Pão de Açúcar podem-se encontrar centenas de opções e às vezes até encontrar um sommelier que o ajudará a escolher. Gostamos de acreditar que esse refinamento do consumidor se deu de uma forma natural e endógena. Mas já li teorias que isso se deu por uma feliz cadeia de eventos iniciada no famoso caso da Degustação de Paris de 1976 (aconselho fortemente a assistir o filme "Julgamento de Paris").

A partir da Degustação que colocou os vinhos da Califórnia no mesmo nível dos europeus, o mercado americano aumentou o consumo de vinhos americanos e incentivou a vinicultura em diversos outros países, como Austrália, Nova Zelândia e Chile. Com isso o vinho europeu perdeu mercado, e uma de suas soluções foi desenvolver mercados em outros países, como o Brasil. E assim, nós não podemos dizer que desenvolvemos nosso paladar para vinhos mas sim que ele "foi desenvolvido".
Garrafa do Chateau Montelena que venceu a Degustação de Paris de 1976 exibida no Museu Smithsonian



Whisky
O malte do whisky escocês seca em fornos que queimam a turfa, a qual confere boa parte dos aromas presentes no Scotch. Porém a escolha da turfa como combustível das maltarias se deu por um fator puramente econômico. Era o combustível mais barato e acessível para os escoceses, e assim criou-se o sabor do Scotch.
Além disso, uma das principais diferenças entre os Bourbon Whiskey americanos e os Scotch Whisky é que aqueles são envelhecidos em barris de carvalhos novos que lhe conferem um aroma mais adocicado. Só que esse processo de envelhecimento não foi uma escolha dos produtores de Whiskey mas sim uma imposição do sindicato de fabricantes de barris, e assim criou-se o sabor do Bourbon.

A conclusão disso é que o mercado não dita suas tendências de acordo com escolhas independentes de seus consumidores, e a lição que fica para o mercado cervejeiro é a importância dos fatores econômicos e como grandes players podem controlar as tendências, por vezes de forma muito sutil.

Estilos Nacionais

Conseguiremos criar uma identidade nacional cervejeira?


Diversas cervejarias brasileiras têm feito muito sucesso em competições internacionais, isto é público e conhecido. No entanto, tais cervejas não representam um estilo ou uma identidade nacional, mas sim o expertise e a originalidade dos cervejeiros que as criaram. Tomemos por exemplo a Wals Petroleum - uma cerveja que ganhou a medalha de ouro no Mundial de La Biere -- uma cerveja deliciosa e que representa a avançada técnica dos cervejeiros nacionais. No entanto, o estilo dela é uma Russian Imperial Stout, e é feita com malte importado, lúpulo importado e até mesmo o Cacau, que é um fruto originário da América do Sul, é Belga!? Com isso, o resultado é uma excelente cerveja mas com um preço de prateleira altíssimo, e que não nos representa.


Acabamos entrando em outra questão: porque a cerveja artesanal é tão cara no Brasil? Comparando duas cervejas artesanais caras de 375 ml; uma Wals Petroleum não custa menos de R$17,00, enquanto uma Dogfish Midas Touch nos USA custa o equivalente a R$8,00. Já uma Founders All day IPA custa (lá nos USA) o equivalente a R$4,30 enquanto uma Way Die Fizzie American  IPA custa R$15,00.

Muito se fala na carga tributária elevada como resposta a esta questão. Mas se comparar a Lista de Países por Carga Tributária com o Beer Price Index, pode-se perceber que existem trinta países com carga tributária maior que o Brasil e destes, dezesseis apresentam preço médio da cerveja menores. Eu sei, é uma análise simplista, mas nos leva a concluir que TALVEZ - ressalto isso - a carga tributária não seja o único problema.

Eu acho que um problema está no cacau Belga da Wals. Estamos tão distantes de uma cultura cervejeira própria, de uma valorização ao que é da nossa terra, que até mesmo o cacau, que é um fruto típico da nossa terra, para estar como insumo na nossa cerveja, ele tem que ser Belga. Obviamente que esse Cacau não brotou na Bélgica, então o fato de ser Belga quer dizer apenas que ele viajou do Brasil (ou outro país tropical), para a Bélgica onde sofreu um processamento (que não foi significativo pois nem chegou a se tornar chocolate), e voltou para o Brasil, custando algumas vezes mais.

A minha teoria é que a consequência de não termos uma cultura cervejeira própria, que valorize o que é da nossa terra, é o alto custo de logística que está embutido em nossas caras cervejas.

Os avanços no sentido de se criar uma identidade nacional cervejeira existem. A Colorado foi uma pioneira nesse sentido, usando mandioca e rapadura. A DadoBier fez uma tentativa com sua Ilex e até a Ambev também seguiu a tendência com sua nova série de cervejas. Algumas cervejarias artesanais têm feito tentativas mais ousadas usando desde pinhão até carqueja .

O fato é que a criação de um identidade nacional passa por dois problemas: a questão do lúpulo e a questão dos maltes especiais.

Lúpulo

Até se produz lúpulo no Brasil, mas em pequena quantidade em caráter experimental e os poucos produtores em Santa Catarina e São Bento do Sapucaí penam para conseguir ampliar a produção. O problema é que o lúpulo é uma planta que se desenvolve bem entre os paralelos 35° e 55°(idealmente no paralelo 48°), tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul, e o extremos sul do Brasil - Chuí, fica no paralelo 33°. Ou seja, nosso extremo sul fica a 2° de distância (grosseiramente 200 km) de uma produção viável de lúpulo. Não sei dizer se isso é muito, mas conforme pudemos ver nos estudos de história da cultura cervejeira no Brasil, já não é de hoje que se tenta conseguir independência desse insumo; em 1867 já se tentava cultivar lúpulo no país (veja aqui).

Outra forma para se resolver esta questão seria a substituição do lúpulo por algum agente de amargor nativo da nossa terra. Várias ervas podem ser cogitadas, como: erva-mate, guaco, carqueja e jurupeba. Algumas dessas ervas até contêm humuleno (o componente ativo do lúpulo), porém não há dúvidas que a utilização de uma erva dessas seria uma inovação radical que demandaria anos de pesquisas para se conseguir um resultado satisfatório, uma cerveja palatável. É interessante notar que a Quassia Amara (Pau Tenente, Cássia, Pau Amargo) era utilizada pelas cervejarias inglesas como agente de amargor substituto do lúpulo no século XIX, enquanto nenhuma cervejaria brasileira optou por utilizar esse insumo tão acessível.

Maltes Especiais
Só se produz no Brasil em grande escala o malte pilsen. Eu não sei se isso se dá por uma dificuldade tecnológica ou por uma questão de baixa demanda. Mas o fato é que isso encarece os maltes especiais para o nosso mercado. E a solução para isto demandaria algum desenvolvimento por parte das maltarias ou alguma criatividade por parte dos cervejeiros para usar outros insumos. Nesse contexto existem experiências sendo feitas com mandioca e pinhão como fontes de açúcares fermentáveis.

Frutas Brasileiras - Por Albert Eckhort (cerca de 1650)
E se a criação da identidade nacional demanda a resolução desses dois problemas, existem alguns facilitadores como: grande variedade de ervas, frutas e especiarias nacionais que já são amplamente utilizadas em cervejas e poderiam ser incorporadas na criação de um estilo nacional.

Assim, com o propósito de reforçar meu argumento  vou levantar os preços para um cervejeiro caseiro fazer esta Imperial IPA e para fazer uma cerveja com malte pilsen, mandioca, pinhão, erva mate e carqueja, que eu vou chamar de Gruit Brazuca. Os preços dos maltes e lúpulos eu levantei de um site de insumos cervejeiros, o pinhão da feira aqui perto de casa e a erva mate, a carqueja e a mandioca eu levantei via google.






Note que meu critério foi simplesmente usar a mesma quantidade de insumos; 8kg de material fermentável e 200g de temperos. Não estou entrando no mérito do resultado de cada receita, não tenho muita dúvida que a imperial IPA deve resultar uma cerveja muito mais palatável ao nosso gosto, mas note que a Gruit Brazuca é uma receita totalmente "tirada do bolso".

O resultado da comparação salta aos olhos; a gruit brazuca custa menos da metade da Imperial IPA feita com a mesma quantidade de insumos (em massa).

Conclusão


O ponto que eu quero chegar como conclusão deste artigo é uma declaração muito simples: "A definição de uma identidade cervejeira brasileira demanda um pragmatismo econômico." Ou seja, a cerveja que nos representará será aquela que consigamos fazer que seja a melhor possível com o custo mais baixo possível. Devemos ter em mente que um estilo só se consolida se, numa determinada região, começa-se a ser feita, seguindo-se parâmetros similares, por diversos fabricantes.

E a consequência direta  da criação da identidade nacional será o aumento do mercado de cervejas artesanais, uma vez que o brasileiro se identificará mais com ela e, mais importante, a cerveja artesanal ficará mais acessível.

Não há nada de errado nas cervejarias brasileiras produzirem cervejas Scotch Ale, Strong American Ale, Russian Imperial Porter ou Irish Red Ale. Isso é diversidade e é excelente. Eu, particularmente, adoro todos esses estilos e muitos outros. Mas deve-se considerar que este não é o caminho para que se tenha um dia uma variedade de estilos brasileiros de cervejas. Como até os argentinos já têm dois estilos próprios de cervejas no BJCP Guidelines 2015, no anexo é verdade, mas nós não temos nem isso.

É muito bom que uma Russian Imperial Porter brasileira com cacau belga faça sucesso em competições internacionais. Mas não seria algo muito melhor que ao viajar ao exterior pudéssemos encontrar uma cerveja estrangeira com um sabor claramente identificado como brasileiro!? Imagine-se em um bar espanhol escolhendo entre uma Brazilian Pale Ale feita na Escócia, uma Strong Brazilian Ale feita na Alemanha ou uma Brazilian Amber Lager feita em Portugal. Não seria fantástico!?


                                                                                                                                                                   



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