Gruit Ale - Cervejas sem Lúpulo da Idade Média
Gruit era o nome dado a uma mistura de ervas aromáticas usadas para dar amargor à cerveja antes da popularização do lúpulo. As três ervas mais utilizadas e que compunham a chamada “santíssima trindade do gruit” eram:
- Mírica (Myrica Gale)
- Uma planta de pântano dos climas nórdicos com um aroma resinoso de eucalipto. Tem propriedades anti-oxidantes e um histórico como repelente de insetos.
- Mil-folhas ou Aquiléia (Achillea Millefolium)
- Uma erva alta com chumaços de pequenas flores e relacionada à camomila. Pode causar alergias.
- Wild Rosemary (Rhododendron Tomentosum ou Ledum Palustre)
- Outra plante de pântanos e que era usada pelos Xamãs na Sibéria na forma de fumaça com propósito inebriante. Diz-se que possui propriedades hipnóticas (mas não alucinógenas).
Dessas três ervas, apenas a Aquiléia é encontrada no Brasil. É possível encontrá-la em lojas de produtos naturais com certa dificuldade (eu diria que você encontra em duas ou três lojas em cada dez). As outras duas ervas são difíceis de encontrar até mesmo no exterior, mas podem ser compradas nos Estados Unidos por meio deste site http://www.wildweeds.com/herbs/index.html
É importante ressaltar que essas ervas possuem certa toxicidade, e por isso deve-se usá-las com alguma cautela. O Randy Mosher escreveu algo do tipo em seu Radical Brewing: "se for utilizá-las, você está por sua conta e risco". Bem, eu já utilizei as três ervas em umas receitas, por minha conta e risco, e sobrevivi para escrever estas linhas.
Além dessas três ervas, eram utilizadas diversas outras especiarias e ervas, tais como: bagas de zimbro, sálvia, alecrim, gengibre, artemísia-comum, etc.
O gruit era elaborado por ordens monásticas, que sabiam quais eram as proporções corretas e mantinham o monopólio da produção, e eram revendidas para os produtores de cerveja que a faziam em casa ou nas suas tavernas.
O uso exclusivo do gruit como agente de amargor nas cervejas foi diminuindo gradativamente entre o século XI e o final do século XVI. Sendo que algumas (poucas) cervejas tradicionais sem lúpulo sobreviveram até os dias de hoje. Como a Sahti na Finlândia, que leva em suas receitas as bagas de zimbro (juniper berries).
Os motivos para esta diminuição não são muito claros. Alguns livros, como o excelente Beer in the Middle Ages and Renaissance, defende que o sucesso das cervejas lupuladas se deu mais devido às propriedades de conservação do lúpulo que aumentaram a durabilidade da cerveja. E que isto, alinhado com a evolução da tecnologia em se produzir cervejas lupuladas, fez com que estas sobressaíssem em consumo ao vinho e ao hidromel entre os séculos 16 e 17.
Razões de ordem política e econômica
Outros possíveis motivos foram de ordem política; dado que os príncipes europeus queriam se livrar da influência política da Igreja Católica - que por meio dos mosteiros controlavam a produção do gruit -, e assim eles apoiaram o movimento liderado por Martinho Lutero; a Reforma Protestante. Coincidência ou não, o Reinheitsgebot foi promulgado em Ingolstadt de 1516, enquanto o Martinho Lutero pregou suas 95 teses na igreja de Wittemberg (a 400km de Ingolstadt) em 1517, iniciando a Reforma Protestante
Alguns autores como o Stephen Burner em seu Sacred, Herbal and Healing Beers, aponta como motivo para a ascensão do lúpulo como um golpe do protestantismo contra as tradições festivas católicas, e como um movimento puritano no sentido de promover a troca das gruit ales (que usam ervas com efeitos estimulantes e afrodisíacos) por cervejas lupuladas (que usa o lúpulo que tem efeitos sedativos). Desta teoria surgiu o interessante movimento pelo Revival das Gruit Ale - http://www.gruitale.com/intro_en.htm. Que tem como mote:
Dedicado à restauração da Gruit Ale, a cerveja que estimula a mente, cria euforia e aumenta o desejo sexual.
Eu, particularmente, acredito que todos os fatores apresentados tiveram sua influência na consolidação do lúpulo, e que é um tanto simplista se explicar com apenas um dos fatores. Explicar que seriam apenas as propriedades de conservação do lúpulo, me parece um argumento um tanto frágil, mesmo porque as gruit ale que eu fiz há uns quatro meses ainda não estragaram.
É possível encontrar diversas receitas de Gruit Ales nas seguintes fontes:
- Site http://www.gruitale.com/recipes_en.htm
- Sacred, Herbal and Healing Beers do Stephen Burner
- Radical Brewing do Randy Mosher
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Muito legal seu post Alan! Breve e informativo. Você tem algum vídeo preparando esta cerveja?
ResponderExcluirMarco Colonnelli.
Não tenho Marco! Mas vc me deu uma boa ideia... vou começar a gravar algumas experiencias. abs
ExcluirLegal o post. Já fiz uma Gruit, com diversos temperos e ervas (13 no total). Só alguns comentários. Rosemary é Alecrim e a Aquiléia é fácil de encontrar em casas de produtos naturais.
ResponderExcluirNão cheguei a escolher um estilo de cerveja pra fazer a Gruit. Segundo um post da BYO, pode-se utilizar qualquer malte, uma vez que na época da Gruit, os maltes não eram bem "confiáveis".